A ÚLTIMA CONVERSA

A ÚLTIMA CONVERSA

Psicologia do fim de relacionamento.

Depois da última chance, aquela mulher, havia perdido a conta de quantas outras oportunidades havia  dado para aquela relação. Embora esgotada existia um soluço de esperança adormecido dento dela. A sua fala tinha uma máscara de lucidez, porém, nos bastidores de suas emoções ardia o desejo insano de não querer acreditar no óbvio.

Eram muitas vozes a afirmar a mesma coisa para ela:

– Você não merece passar por isso!

Dessa vez, parecia haver chegado no seu limite. Depois de tantas tentativas ela se decepcionou mais uma vez, ou seja, não mais havia como continuar com aquele homem.

Ela tinha dito a si mesma:

-Chega! Não aguento mais.

Apesar de tudo ela sentia que precisava ainda ter uma “última conversa” com o parceiro. A sua fala era até certo ponto pertinente, isto é, parecia que era preciso fechar a situação para não deixar nada em “aberto.” De repente, ela se lembrou de ter lido tal conselho, talvez em uma dessas revistas de atualidade feminina.

Tinha muitas coisas engasgadas que ela precisava falar. Por vezes, não sabia se queria falar ou ouvir uma outra justificativa. O medo sempre a motivou a acreditar nas “verdades” dele. Acreditamos no impossível quando não exorcizamos nossos medos internos.  No entanto, aquele homem fugia dela como o diabo foge da cruz.

Na verdade ela dizia para si mesmo:

– Por que ele evita a conversa?

Na verdade aquela mulher não queria uma conversa para entender o motivo de mais uma decepção, tão somente, precisava de mais uma oportunidade para reacender a chama da esperança. Na antessala de suas emoções a expectativa de mudar o outro confiscou sua dignidade emocional. Numa orfandade de autorrespeito ela ofuscava sua percepção e patrocinava o autoengano.

Quem quer explodir e dar o grito de indignação não consulta o calendário do outro. Aquela mulher sabia da agenda do seu ex, porém, ainda queria mostrar cortesia e educação, resquícios da educação da moça comedida.

O álibi de que o outro fugia dela era apenas uma projeção da fuga que ela fazia com sua percepção, ou melhor, aquela mulher não queria uma conversa, ela precisava de uma redenção do medo de não ser rejeitada mais uma vez.

Finalmente, a última conversa tinha virado uma obsessão, talvez a fixação nessa situação serviria apenas para ouvir o que tanto queria e temia do seu ex:

-Me dá mais um chance!

Marcos Bersam

Psicólogo

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